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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Médicos argentinos e brasileiros citam larvicida como causa potencial da microcefalia

Claire Robinson
Comentário de Julio Severo: Na semana passada, o indicador mais forte de que a microcefalia tem causas mais complexas do que diretamente o vírus Zika foi anunciado pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, conforme reportagem do jornal Washington Post. Autoridades de saúde da Colômbia, disse Santos, até agora diagnosticaram 3.177 mulheres grávidas com o vírus Zika, mas os exames apontaram que nenhum dos bebês em gestação tem microcefalia. Tal resultado mostra claramente que a epidemia de microcefalia no Brasil não deve ter como causa direta o vírus Zika. Qual é a causa então? É o que nos dirá a reportagem abaixo, que, embora eu não concorde plenamente, apesar disso tem pontos muito interessantes para análise:
Um relatório da organização médica argentina Médicos nas Cidades Fumigadas [1] desafia a teoria de que a epidemia do vírus Zika no Brasil é a causa do aumento da doença congênita microcefalia entre recém-nascidos.
O Ministério da Saúde do Brasil rapidamente ligou ao vírus Zika o aumento nesse defeito congênito, em que o bebê nasce com uma cabeça anormalmente pequena e muitas vezes tem danos cerebrais. Contudo, de acordo com Médicos nas Cidades Fumigadas (MCF), o Ministério da Saúde cometeu falha ao não reconhecer que na região onde a maioria dos doentes vive, um larvicida químico que produz má-formação nos mosquitos foi introduzido no abastecimento de água potável em 2014. Esse veneno, Pyriproxyfen, é usado numa campanha governamental com o objetivo de erradicar mosquitos que transmitem doenças.
O MCF acrescentou que o Pyriproxyfen é fabricado pela empresa Sumitomo Chemical, uma “parceira estratégica” japonesa da empresa americana Monsanto. O Pyriproxyfen é um produto químico que inibe o crescimento das larvas dos mosquitos, alterando o processo de desenvolvimento das larvas, impedindo-as de chegar à idade adulta, gerando assim má-formação nos mosquitos em desenvolvimento e matando-os ou aleijando-os. O Pyriproxyfen age como um hormônio de inseto juvenil ou juvenoide, e tem o efeito de inibir o desenvolvimento de características de um inseto adulto (por exemplo, asas e órgãos sexuais externos maduros) e o desenvolvimento reprodutivo. É um interruptor endócrino e é teratogênico (causa defeitos congênitos), de acordo com MCF.
O MCF comentou: “Má formações detectadas em milhares de crianças de mulheres grávidas que vivem em regiões em que o governo brasileiro adicionou o Pyriproxyfen na água de beber não são coincidência, ainda que o Ministério da Saúde coloque uma culpa direta no vírus Zika por esse estrago.”
O MCF também comentou que o Zika é tradicionalmente considerado uma doença relativamente benigna que nunca antes teve ligação com defeitos congênitos, até mesmo em lugares em que infecta 75% da população.

O larvicida é provavelmente o maior culpado nos defeitos congênitos.

O Pyriproxyfen é um produto químico introduzido no meio-ambiente do Brasil relativamente há pouco tempo. O aumento de microcefalia é um fenômeno relativamente novo. Então o larvicida parece um fator plausível de causa na microcefalia — muito mais do que os mosquitos geneticamente modificados, que alguns têm culpado pela epidemia do Zika e assim pelos defeitos congênitos. Não existe evidência sólida para apoiar a noção promovida por algumas fontes de que os mosquitos geneticamente modificados podem causar o Zika, que por sua vez pode causar a microcefalia. Aliás, dos 404 casos confirmados de microcefalia no Brasil só 17 (4,2%) apresentaram resultado positivo nos testes do vírus Zika.

Especialistas médicos brasileiros concordam que o Pyriproxyfen é o principal suspeito

O relatório do MCF, o qual lida com a epidemia de febre dengue no Brasil, concorda com as conclusões de um relatório separado sobre a explosão de Zika. O relatório foi feito pela Abrasco, uma organização brasileira de médicos e pesquisadores de saúde pública.[2]
A Abrasco também cita o Pyriproxyfen como uma causa provável da microcefalia e condena a estratégia de usar produtos químicos para combater os mosquitos que transmitem o Zika. A Abrasco diz que essa estratégia está contaminando o meio-ambiente e as pessoas e não está reduzindo o número de mosquitos. A Abrasco sugere que essa estratégia está sendo movida por interesses comerciais da indústria química, que diz que está profundamente envolvida nos ministérios de saúde da América Latina e também na Organização Mundial de Saúde e na Organização Pan-Americana de Saúde.
A Abrasco cita a Oxitec, uma empresa britânica de insetos geneticamente modificados, como parte do lobby empresarial que está distorcendo os fatos sobre o Zika para servir à sua própria agenda de produzir lucros. A Oxitec vende mosquitos geneticamente modificados projetados para serem estéreis e os comercializa como produtos que combatem doenças — uma estratégia condenada pelos médicos argentinos como “fracasso total, exceto para a empresa que supre os mosquitos.”

Quem sofre mais são os pobres

As associações de médicos e pesquisadores brasileiros e argentinos concordam em que a pobreza é um fator principal negligenciado na epidemia do Zika. A Abrasco condenou o governo brasileiro por “acobertar deliberadamente” as causas econômicas e sociais: “Na Argentina e em todo o continente americano as populações mais pobres com o menor acesso ao saneamento básico e água limpa são as que mais sofrem com a epidemia.” O MCF concordou, dizendo: “A base da expansão da doença é a desigualdade e a pobreza.”
A Abrasco acrescentou que a doença tem ligação íntima com a degradação ambiental: enchentes causadas por exploração de madeira e o uso imenso de herbicidas em colheitas de soja geneticamente modificadas para tolerar herbicidas — em resumo, “os impactos das indústrias extrativistas.”
A noção de que a degradação ambiental pode ser um fator na propagação do Zika encontra apoio na opinião do Dr. Dino Martins, um entomologista queniano. Martins disse que “a explosão de mosquitos em áreas urbanas, que está impulsionando a crise do Zika,” é causada por “uma falta de diversidade natural que se estivesse em ordem manteria as populações de mosquitos sob controle, e a proliferação de resíduos e falta de aterros sanitários em algumas áreas que fornecem o habitat artificial para reproduzir mosquitos.”

Ações comunitárias

O MCF acredita que a melhor defesa contra o Zika são “ações comunitárias.” Um exemplo de tal ação foi apresentado numa reportagem da BBC sobre o vírus da dengue em El Salvador. Um lugar predileto para os mosquitos transmissores da doença se reproduzirem são os recipientes de armazenagem de água parada. Os salvadorenhos começaram a manter peixes nos recipientes, e os peixes comem as larvas dos mosquitos. A dengue desapareceu junto com os mosquitos que transmitem a doença. E até agora os salvadorenhos não tiveram nenhum caso de Zika também.
Campanhas simples, mas eficientes, como essa estão em perigo de serem negligenciadas no Brasil em favor de campanhas apoiadas por grandes empresas, que querem o uso de pesticidas e mosquitos geneticamente modificados. O uso dos mosquitos geneticamente modificados não teve nenhuma comprovação de eficácia e os pesticidas podem estar causando estragos mais graves do que os mosquitos que estão sendo visados.
Notas
1. Relatório de Médicos em Cidades Fumigadas com relação à dengue-Zika, microcefalia e fumigação com venenos químicos. Veja: http://www.reduas.com.ar/wp-content/plugins/download-monitor/download.php?id=109
 

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