Células-tronco neurais humanas foram injetadas
em roedores aleijados ROBERT F. BUKATY
RIO - O tratamento com células-tronco humanas permitiu que camundongos aleijados por um tipo de esclerose múltipla (EM) andassem novamente depois de menos de duas semanas — o que sugere uma possível nova direção para terapias com seres humanos.
O resultado surpreendeu os cientistas, que acreditam que o experimento pode provocar uma novo caminho para o tratamento da esclerose.
Os camundongos geneticamente modificados tinham um estado de saúde que imita os sintomas da esclerose múltipla humana. Os roedores estavam tão frágeis que não conseguiam comer e beber por conta própria e tinham de ser alimentados à mão pelos cientistas.
Os pesquisadores transplantaram células-tronco neurais humanas nos animais, acreditando que elas seriam rejeitadas e não trariam benefícios. Em vez disso, a experiência rendeu resultados espetaculares.
Entre 10 a 14 dias, os camundongos recuperaram suas habilidades motoras e conseguiram andar novamente. Seis meses depois, eles não mostraram qualquer sinal de recaída.
Os resultados, publicados na revista “Cell Stem Reports”, avaliam que os roedores experimentaram pelo menos uma reversão parcial de seus sintomas.
Um resultado semelhante em seres humanos poderia ajudar os pacientes que sofrem com estágios avançados da doença, para os quais ainda não existem tratamentos.
— Este resultado abre uma nova área de pesquisa, em que nós devemos descobrir porque o experimento funcionou — ressalta Jeanne Loring, coautora do estudo e diretora do Centro de Medicina Regenerativa do Instituto Scripps Research em La Jolla, Califórnia. — Esquecemos há muito tempo do que era nosso plano original.
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, em que o próprio sistema de defesa do organismo ataca a mielina, uma camada de isolamento que envolve as fibras nervosas.
Com a perda da mielina, os impulsos nervosos não podem ser transmitidos adequadamente, levando a sintomas que vão de um leve formigamento à paralisia completa.
As drogas que atuam no sistema imunológico podem retardar as formas iniciais da doença, mas pouco podem fazer para os pacientes nas fases posteriores.
A equipe envolvida com o estudo acredita que seu sucesso pode estar ligado à maneira como as células-tronco foram cultivadas em um prato de laboratório excepcionalmente vazio. Isso levou à formação de células estaminais altamente potentes, com uma capacidade aumentada para amadurecer e desenvolver.
Sinais químicos das células-tronco instruíram as próprias células dos camundongos a repararem os danos provocados pela esclerose múltipla.
Um sinal foi identificado como a proteína chamada TGF-beta, levantando a possibilidade de que forneceria uma terapia semelhante sob a forma de um fármaco.
— Em vez de introduzir as células-tronco em um paciente, o que pode ser um desafio do ponto de vista médico, podemos desenvolver uma droga que facilitaria a terapia — explica o professor Tom Lane, da Universidade de Utah (EUA).
O estudo foi elogiado Sorrel Bickley, da Sociedade Americana de Esclerose Múltipla:
— É interessante e está em estágio inicial, o que pode dar novas ideias para outras pesquisas sobre terapias voltadas para a esclerose múltipla — avaliou. — Não estamos planejando aplicar este experimento em seres humanos, mas trata-se de um caminho útil a ser explorado pelos cientistas. Estamos ansiosos para saber como esta área de pesquisa pode ser desenvolvida.
Fonte: O Globo