Estudo completo do Salmo 91.
Este Salmo é uma profecia com promessas de proteção e livramento para o Cristo. O Salmo 91 faz referência a encarnação, sofrimento, morte e ressurreição de Jesus, aquele que antes de ser introduzido no mundo dos homens estava no esconderijo do Altíssimo.
Salmo 91 – Aquele que Habita no esconderijo do Altíssimo
- AQUELE que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
- Direi do SENHOR: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.
- Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.
- Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
- Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia,
- Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia.
- Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.
- Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.
- Porque tu, ó SENHOR, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação.
- Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
- Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
- Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.
- Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
- Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome.
- Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.
- Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.
Introdução
É comum nas casas, empresas, repartições públicas, escolas, etc., encontrarmos uma Bíblia aberta no Salmo 91. Às vezes, pela ação do tempo, a página da Bíblia no Salmo 91 fica empoeirada e amarelada. Também é comum as pessoas pendurarem em suas residências quadros que estampam uma cópia do Salmo 91.
Muitos utilizam o Salmo 91 para rezar, enquanto outros citam trechos do Salmo 91 em suas orações, mas será que compreendem o seu significado? Ainda há aqueles que nem mesmo leram o Salmo 91, mas por recomendação, fazem do Salmo um amuleto.
Desde longa data o Salmo 91 é utilizado como amuleto. Os adeptos das religiões espiritualistas entendem que o Salmo 91 é poderoso e que deve ser utilizado nas horas de necessidades para pedir e agradecer a proteção divina para tudo e todos, mas, a despeito destas concepções místicas, surge a pergunta: como entender e interpretar o Salmo 91?
Salmos são cânticos proféticos
O salmista e rei Davi era profeta e separou os levitas para profetizarem com toda a sorte de instrumentos musicais:
“E DAVI, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério:” ( 1Cr 25:1 ).
O livro das Crônicas de Israel deixa bem claro que a função precípua de um salmista era profetizar. O rei Davi comissionou os músicos a redigirem o que profetizavam em forma de poesia, de modo que fosse possível cantá-los ao som de instrumentos musicais.
Esta proposta de Davi visava suprir a deficiência de leitura da população, que na sua maioria não sabiam ler e escrever. Apenas escrever as profecias em textos formais não facilitava o processo de memorização do povo, enquanto que, a poesia e a música atendem muito bem a este propósito.
Portanto, ao analisar um salmo, deve-se ter em mente que eles são composições de cunho profético, e não somente expressões da alma, produto da psique humana. Em uma análise dos salmos deve-se priorizar o conteúdo da mensagem, visando desvendar seu conteúdo profético. As questões poéticas e musicais ficam em segundo plano.
Certa feita o Senhor Jesus questionou os fariseus acerca do Salmo 110, e eles não puderam respondê-lo de quem o Messias era filho:
“Dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. Disse-lhes ele: Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo” ( Mt 22:42 -46).
Através da abordagem que Jesus fez, verifica-se que os Salmos, como parte das Escrituras, tem por objetivo dar testemunho do Cristo. O Salmo 110 demonstra que o Messias não seria somente filho de Davi, antes era Senhor de Davi, indicando a sua divindade.
Vale salientar que, na sua grande maioria, os Salmos fazem referência ao Messias, porém, cada um deles se atém a uma característica da vida do Messias, tais como: reino, humanidade, divindade, missão, morte, ressurreição, etc.
Alguns Salmos até fazem referência às relações estabelecidas na eternidade entre as pessoas da divindade ( Hb 1:5 ; Sl 2:7 ). O escritor aos Hebreus demonstra, através dos Salmos, que os acordos firmados na eternidade foram levados a efeito quando o Primogênito de Deus foi introduzido no mundo.
O Salmo 110, verso 1 diz: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés” ( Sl 110:1 ), temos aqui o ‘Senhor’ estabelecendo um prazo para que o ‘Senhor’ do salmista permanecesse assentado à Sua mão direita. O salmista estava profetizando acerca de si mesmo, ou do Cristo? ( At 8:34 ). O que pensar acerca do Cristo neste texto? ( Mt 22:42 ).
Antes de prosseguirmos, leia atentamente os Salmos 56 e 57, pois eles contêm elementos essências para interpretarmos o Salmo 91. Observe que o Salmo 56 e 57 descrevem profeticamente uma realidade que não era a do salmista Davi ou de seus cantores e, que os eventos descritos podem fazer referência à outra pessoa.
Outro ponto a se observar nos salmos, que na sua grande maioria são composições proféticas com vários enigmas, parábolas, figuras, adágios, provérbios, etc. Antes de interpretar qualquer frase, desvende o
enigma da parábola. Por exemplo: por que Jesus chama os escribas e fariseus de raça de víboras? Primeiro é necessário compreender de onde Jesus tirou tal figura para fazer referencia aos escribas e fariseus como ‘raça de víboras’, e no que consiste tal figura.
Não é possível afirmar categoricamente quem é o autor deste Salmo. Alguns apontam o profeta Moisés como o escritor do Salmo 91 por causa de certas evidências internas (expressões idiomáticas). Outros apontam como autor o salmista e rei Davi, mas não há como precisar quem redigiu o Salmo 91.
O esconderijo do Altíssimo
“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará” (Salmo 91:1)
O primeiro passo para interpretar Salmo 91 é responder a seguinte pergunta ( Sl 91:1 ): Quem habita no esconderijo do Altíssimo? É possível aos homens mortais residirem no recôndito do Altíssimo? A resposta está no decurso do próprio Salmo: “Porque tu, ó SENHOR, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação” ( Sl 91:9 ).
Quando escreveu esta profecia, o salmista fez referência a alguém que, naquele exato momento estava residindo no esconderijo (lugar oculto) do Altíssimo, e que, no futuro, haveria de deixar a habitação do Altíssimo. Quando deixasse o esconderijo do Altíssimo, seria necessário refugiar-se à sombra do Onipotente ( Jo 16:28 ).
Analisando a primeira questão: “Quem é Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo?”; “Onde fica o esconderijo do Altíssimo?”.
“Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” (Isaías 33:14).
O ‘esconderijo de Altíssimo’ não fica na Terra, pois tal esconderijo diz de um ‘lugar’ inacessível aos homens, na eternidade.
“Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57:15).
“Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém” ( 1Tm 6:16 );
“Para o entendido, o caminho da vida leva para cima, para que se desvie do inferno em baixo” ( Pv 15:24 );
“Trovejou desde os céus o SENHOR; e o Altíssimo fez soar a sua voz” ( 2Sm 22:14 );
“Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” ( Jo 3:13 ).
Considerando que o esconderijo do Altíssimo é o céu e, que ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que de lá desceu ( Jo 3:13 ), conclui-se que Jesus é aquele que habitava no esconderijo do Altíssimo antes de ser introduzido no mundo.
Jesus habitava o céu quando o Salmo 91 foi escrito e o salmista prediz que Aquele que habita no céu haveria de descansar sobre a proteção do Onipotente, ou seja, o Salmo diz de Cristo quando se esvaziasse da Sua glória e fosse introduzido no mundo como o Unigênito de Deus.
Não há registro nas Escrituras de alguém que tenha habitado no esconderijo do Altíssimo, mas Aquele que havia de vir, o Filho do homem, d’Ele as Escrituras dá testemunho que na eternidade habitou o recôndito da divindade ( Sl 45:6 ; Is 7:14 ; Is 8:17 ; Pv 30:3 ). Jesus mesmo falou acerca da sua glória: “E agora me glorifica tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse“ ( Jo 17:5 ). Os santos apóstolos de Cristo também falaram da glória de Cristo ( Jo 1:1 e 1Jo 1:1- 3; Hb 1:5 e 8), de modo que Jesus é aquele que habitava no esconderijo de Deus, pois Ele é o Verbo Eterno que estava com Deus ( Jo 1:1 ).
A sombra do Onipotente refere-se à proteção que Deus estabeleceu sobre o Messias:
“O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita” ( Sl 121:5 );
“Guarda-me como à menina do olho; esconde-me debaixo da sombra das tuas asas” ( Sl 17:8 );
“Porque foste a fortaleza do pobre, e a fortaleza do necessitado, na sua angústia; refúgio contra a tempestade, e sombra contra o calor; porque o sopro dos opressores é como a tempestade contra o muro” ( Is 25:4 ).
Analisando a segunda questão do primeiro verso: Como Jesus descansou à sombra do Onipotente? Obedecendo a palavra de Deus. Obedecer a palavra de Deus é descansar à sombra do Onipotente. Confiar na palavra de Deus é descansar, o que se demonstra na obediência. Quando Jesus resignou-se a fazer a vontade de Deus entregando a sua alma na morte, estava descansado, pois confiou na salvação do Onipotente.
É em função desta verdade que Jesus diz:
“A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” ( Jo 4:34 ). A
satisfação, o desejo, a alegria de Cristo estava em obedecer à palavra de Deus, de modo que Isaías profetizou dizendo que a palavra de Deus estava na boca do Cristo. Mas, a boca fala da abundância do que há no coração, de modo que a palavra de Deus é a essência do Cristo.
“Porque tu tens sido o meu auxílio; então, à sombra das tuas asas me regozijarei” ( Sl 63:7 );
“E ponho as minhas palavras na tua boca, e te cubro com a sombra da minha mão; para plantar os céus, e para fundar a terra, e para dizer a Sião: Tu és o meu povo” ( Is 51:16 );
“E fez a minha boca como uma espada aguda, com a sombra da sua mão me cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me escondeu na sua aljava” ( Is 49:2 ).
Há um enigma a ser desvendado na profecia de Isaías quando Ele diz que o Messias seria como uma flecha limpa escondida na aljava do Todo-poderoso. A flecha refere-se à filiação divina do Messias, pois flecha na aljava diz da descendência de um homem “Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade” ( Sl 127:4 ). O Messias, por sua vez, tornou-se proteção para os que n’Ele confiam:
“E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” ( Is 32: 2)
Ou seja, Aquele que habitava na eternidade, por ser o Altíssimo ( Is 57:15 ), ao ser introduzido no mundo na condição de Servo do Senhor, viveu o predito pelo salmista: confiou inteiramente no Pai “Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste” ( Jo 11:42 ); “Confiou no SENHOR, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer” ( Sl 22:8 ) compare com “Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus” ( Mt 27:43 ; Is 42:1 ).
O Salmo 91 é profético e messiânico. O salmista registra algumas promessas para o Verbo de Deus que haveria de se fazer homem. O Altíssimo, sendo Senhor de tudo, deixa a sua glória e assume a condição de Filho sobre a sua própria casa ( Sl 47:2 ; Hb 3:6 ). Este foi o acordo estabelecido entre as pessoas da divindade na eternidade, como se lê:
“Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho?” ( Hb 1:5 ).
Na eternidade as pessoas da divindade acordaram entre si e uma delas assumiu a condição de Filho quando introduzido no mundo dos homens. É por isso que as Escrituras refere-se a Cristo como sendo aquele que tudo criou “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” ( Hb 3:6 ; Jo 1:3 ; Cl 1:16 ).
No Salmo 110, outra profecia sobre Jesus, o Cristo é descrito como Senhor do salmista e é visto assentado à destra da Majestade nas alturas. No Salmo 110 temos o Cristo ressurreto voltando ao seu lugar por direito, enquanto no Salmo 91 temos uma predição apontando que o Cristo deixaria a sua glória.
Os fariseus relutavam em admitir que o Pai celeste tivesse um Filho, isto porque não observavam as Escrituras:
“Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu Filho, se é que o sabes?“ ( Pv 30:4 ).
O Salmo 91 complementa outros salmos. O Salmo 15 diz: “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte?” ( Sl 15:1 ). Como já analisamos em outros Salmos, somente Jesus andou em sinceridade, praticou a justiça e falou a verdade segundo o seu coração ( Sl 15:3 ). Somente o Cristo de Deus tem olhos capazes de desprezar o réprobo. Somente Ele pode honrar os que temem ao Senhor ( Sl 15:4 ).
O Salmo 24 diz: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem estará no seu tabernáculo?” ( Sl 24:3 ). A resposta é clara e aponta para alguém em específico: “Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá do Senhor a bênção e a justiça do Deus da sua salvação” ( Sl 24:4 -5; Isaías 33:14 -16). Somente Jesus dentre os filhos dos homens foi limpo de mãos e puro de coração, cumpriu toda a lei, recebeu a benção e a justiça.
Por falar especificamente do Messias, o salmista não diz ‘qualquer que’, antes utiliza o pronome demonstrativo ‘aquele’ nos Salmos 15, 24 e 91, isto porque somente o Cristo de Deus nunca foi abalado ( Sl 15:5 ).
O convite do evangelho é universal, visto que ‘todo aquele que crê’ ou ‘qualquer que crer’ receberá vida eterna por Jesus, porém, os Salmos são profecias que apresentam o Cristo de Deus aos homens.
“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39)
Como parte das Escrituras, os salmos anunciam o Cristo, tornando possível reconhece-lo mesmos com a vinda de muitos outros cristos, e pois somente por Cristo é possível aos homens o ‘conhecimento’ (união intima) de Deus, ou seja, que os homens venham a ser participantes da natureza divina ( 2Pe 1:4 ).
Qualquer homem que queira habitar com o Altíssimo necessita crer em Cristo conforme diz as Escrituras para receber de Deus poder para ser feito filho de Deus ( Jo 1:12 ). Todos quantos forem criados de novo, em verdadeira justiça e santidade, serão, ainda aqui neste mundo, tal qual Cristo é ( 1Jo 4:17 ; 1Co 15:48 ). Ora, se os que creem são tal qual Ele é neste mundo, habitarão onde Ele habita, visto que, onde Ele estiver ali também estarão.
“E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” ( Jo 14:3 ).
Através da desobediência de Adão a geração dos ímpios estabeleceu-se e, através de Cristo, que é o último Adão, a geração dos justos é estabelecida ( Sl 24:6 ). Todos quantos são gerados de novo em Cristo Jesus são limpos de mãos e puros de coração. Estão aptos a residir no lugar santo, visto que os irmãos conduzidos à glória são como o Primogênito, co-herdeiros de Deus ( Rm 8:29 ; Hb 2:10 ).
O Salmo 91 é uma profecia que apresenta dois ‘momentos’ distintos pertinentes ao Verbo de Deus. À ‘época’ que o salmista profetizou, o Verbo de Deus estava habitando no esconderijo do Altíssimo, porém, quando o Verbo se fez carne precisou abrigar-se sob a sombra do Onipotente por estar despido de sua glória.
O refúgio do Messias
“Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei” (Salmo 91:2)
Aquele que reside no lugar secreto do Altíssimo haveria de anunciar o nome de Deus aos homens, dizendo: “Ele é o meu Deus, o meu refugio, a minha fortaleza, e n’Ele confiarei” ( Sl 91:2 ). O escritor aos Hebreus cita o Salmo 18 para demonstrar que o próprio Filho disse por intermédio do salmista que colocaria em Deus a sua confiança “E outra vez: Porei n’Ele a minha confiança” ( Hb 2:13 ; Sl 18:1 -2 ; Sl 56:4 ).
Nos Salmos 103 e 104, o salmista demonstra a sua confiança em Deus e o bendiz pela sua grandeza e por tudo o que realizou em prol dos homens, mas o Salmo 91 utiliza o verbo ‘confiar’ no futuro (nele confiarei), o que nos faz questionar se o salmista ainda não confiava em Deus quando escreveu este Salmo.
Na glória, o Verbo eterno não precisava confiar, mas ao ser introduzido no mundo participante da carne e do sangue e sujeito às mesmas paixões que os homens, porém, sem pecado, também precisaria confiar inteiramente em Deus ( Hb 4:15 ).
O verso 2 do Salmo 91 é equivalente à introdução do Salmo 31, quando o salmista deixa registrado as últimas palavras do Messias:
“Em ti, ó Senhor, me refugio; nunca seja eu envergonhado; livra-me pela tua retidão (…) Nas tuas mãos encomendo o meu espírito…” ( Sl 31:1 -5).
O Verbo de Deus encarnado, o Filho de Davi haveria de dizer do Senhor: “Ele é meu Deus, o meu refugio, a minha fortaleza”. O salmista predisse que o Messias haveria de confiar plenamente em Deus, até mesmo no momento mais cruento da existência dele entre os homens haveria de se refugiar, abrigar-se em Deus, encomendando o seu espírito.
Se o próprio salmista estivesse bendizendo ao Senhor, não haveria necessidade de utilizar o verbo ‘dizer’ no futuro (direi). Geralmente, os salmistas, quando fazem referência a eventos que lhes são pertinentes dizem: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor” ( Sl 103:1 ). O cântico do salmista Davi é: “No SENHOR confio; como dizeis à minha alma: Fugi para a vossa montanha como pássaro?” ( Sl 11:1 ).
Jesus Cristo homem ao ouvir desde menino a leitura das Escrituras nas sinagogas e no seio da sua família, aliado ao testemunho de sinais e maravilhas que cercaram o evento do seu nascimento, compreendeu pelas Escrituras que Ele era o Messias, o Filho de Deus encarnado. Jesus precisou crer no testemunho que Deus estabeleceu nas Escrituras e descobrir por si mesmo que era o Cristo.
Diante das promessas que o Pai deixou registrado nas Escrituras, Ele creu, para que se tornasse o Autor e Consumador da fé “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” ( Hb 12:2 ); “Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” ( Hb 5:8 ).
Laços e pestilencias
“Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas te confiarás; a Sua verdade será o teu escudo e broquel. Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará próximo de ti. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios” (Salmo 91:3 -8)
Nestes versos estão elencados alguns eventos que não atingiria o Primogênito de Deus quando fosse introduzido no mundo. As promessas de Deus elencadas nestes versos são específicas para o seu Filho.
- “Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro…” – O Filho do homem ‘certamente’ não seria pego nas armadilhas (palavras) dos homens ímpios, por mais engenhosas que fossem. Quando inquiriram o Messias se era lícito pagar tributo a Cesar ( Mt 22:17 ), ou quando apresentaram a mulher pega em ato de adultério ( Jo 8:5 ), tais armadilhas não o enlaçaram “Armaram uma rede aos meus passos; a minha alma está abatida. Cavaram uma cova diante de mim, porém eles mesmos caíram no meio dela” ( Sl 57:6 ; Sl 56:5 ). O profeta Jeremias descreve quem são os ‘passarinheiros’: “Porque ímpios se acham entre o meu povo; andam espiando, como quem arma laços; põem armadilhas, com que prendem os homens. Como uma gaiola está cheia de pássaros, assim as suas casas estão cheias de engano; por isso se engrandeceram, e enriqueceram” (Jr 5:26 -27).
- “…e da peste perniciosa” – O Filho de Davi era livre do pecado (a peste perniciosa), visto que Ele foi gerado de Deus ( Sl 2:7; 2Sm 7:14 ). Todos os descendentes da carne de Adão, ou seja, que entraram pela porta larga, foram contaminados pelo pecado (ou, vendidos ao pecado como escravos), porém, Jesus, o último Adão, é a porta estreita pela qual todos os homens que querem ser livres do pecado precisam entrar.
- “Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas te confiarás” – O Messias haveria de ser protegido, abrigado em segurança na palavra Deus. “TEM misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, porque a minha alma confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades” ( Sl 57:1 ).
- “a Sua verdade será o teu escudo e broquel” – Em todos os ataques dos adversários, a Palavra de Deus (verdade) haveria de ser a defesa de Cristo. Diante dos escribas, fariseus e saduceus Jesus citou as Escrituras. Quando da tentação pelo diabo no deserto, Cristo utilizou a verdade das Escrituras como escudo e broquel (defesa).
- “Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia” – O ‘terror de noite’, a ‘seta lançada durante o dia’, a ‘peste que se move na escuridão’ e a ‘mortandade que acomete ao meio-dia’ não amedrontou o Messias.
Estes versos possuem alguns enigmas como: noite, escuridão e mortandade.
Quando o homem anda segundo a palavra de Deus, anda na luz, pois a palavra de Deus é lâmpada para os pés e luz para o caminho. A escuridão refere-se à ausência da palavra da verdade ( Is 9:2 ). Diz da palavra de engano que faz com que o homem permaneça na morte “Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” ( Ef 4:18 ).
Jesus despojou-se de sua glória e majestade e em tudo se tornou semelhante aos seus irmãos ( Hb 2:17 ), porém, o medo que os homens detinham da morte e do pecado não o acometeu, visto que Ele nunca esteve sujeito a escravidão do pecado, e não se deixou levar pela doutrina de engano ( Hb 2:15 ).
As palavras dos escribas e fariseus constituem-se em laço, armadilhas ( Sl 119:110 ), pois tinha o objetivo de desviar o Cristo de fazer a vontade do Pai. O ‘laço do passarinheiro’ são palavras cheias de engano e malícia que fazem o homem desviar-se do mandamento de Deus “Também os que buscam a minha vida me armam laços e os que procuram o meu mal falam coisas que danificam, e imaginam astúcias todo o dia” ( Sl 38:12 ); “Firmam-se em mau intento; falam de armar laços secretamente, e dizem: Quem os verá?” ( Sl 64:5 ; Pv 13:14 ).
Desde o Éden a ‘peste perniciosa’ assola a humanidade, pois um pecou e todos pecaram. Um morreu e todos morreram ( 1Co 15:21 -22), e passaram a falar segundo os seus corações mentirosos ( Sl 58:3 ). A peste perniciosa não se assemelha a peste negra que dizimou a Europa. Nem tão pouco diz de agentes químicos ou de armas biológicas.
Os filhos do povo do Messias armaram diversas armadilhas com o fito de ‘pegar’ o Cristo nalguma contradição, porém, somente eles permaneceram enlaçados.
“Armaram uma rede aos meus passos; a minha alma está abatida. Cavaram uma cova diante de mim, porém eles mesmos caíram no meio dela” ( Sl 57:6 ; Sl 56:5 ; Mt 22:17 ; Jo 8:5 );
“Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, A pedra que os edificadores reprovaram, Essa foi a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” ( 1Pe 2:6 -8; Rm 9:33 ).
O Filho de Davi desde o ventre de Maria era livre do pecado (a peste perniciosa), visto que Ele foi lançado na madre por Deus ( Sl 22:10 ) e gerado pelo Espírito Eterno ( Sl 2:7; 2Sm 7:14 ). Todos os descendentes da carne de Adão, a porta larga por quem todos os homens entram ao virem ao mundo, foram contaminados pelo pecado (o mesmo que ser vendidos ao pecado como escravos), porém, Jesus, o último Adão, é a porta estreita pela qual todos os homens que creem torna-se livres do pecado.
A proteção de Deus dispensada ao Messias era específica: “Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas te confiarás” (v. 4). Da mesma forma que a galinha protege os seus pintainhos debaixo de suas asas, o Cristo estava seguro debaixo das asas do Onipotente “TEM misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, porque a minha alma confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades” ( Sl 57:1 ; Sl 63:7 e Sl 61:4 ).
A verdade ou a fidelidade de Deus foi constituída como escudo e broquel do Messias. Todos os adversários vieram contra Ele utilizando-se de palavras de engano, mas na Palavra de Deus (verdade e fidelidade) estava a defesa de Cristo. Diante dos religiosos Judeus, Jesus apresentou as Escrituras em sua defesa. Quando tentado pelo diabo no deserto, Cristo fez uso das Escrituras.
Há pessoas que ficam até arrepiadas quando leem o verso seguinte por falta de compreensão: “Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia” (v. 5 ). Este verso é resumo do exposto profeticamente pelo Salmo 64:
“OUVE, ó Deus, a minha voz na minha oração; guarda a minha vida do temor do inimigo. Esconde-me do secreto conselho dos maus, e do tumulto dos que praticam a iniquidade. Que afiaram as suas línguas como espadas; e armaram por suas flechas palavras amargas, A fim de atirarem em lugar oculto ao que é íntegro; disparam sobre ele repentinamente, e não temem. Firmam-se em mau intento; falam de armar laços secretamente, e dizem: Quem os verá? Andam inquirindo malícias, inquirem tudo o que se pode inquirir; e ambos, o íntimo pensamento de cada um deles, e o coração, são profundos” ( Sl 64:1 -6).
Os soldados geralmente são atormentados pelo medo do inimigo quando no campo de batalha. Durante a noite a possibilidade do ataque sorrateiro do inimigo é um tormento, e durante o dia, os perigos que as flechas inimigas representam também atemorizam. O inimigo ataca nas trevas, ou seja, quando lhe falta a luz do entendimento da palavra de Deus. A setas são ataques deferidos contra o Messias enquanto ele se fazia presente entre os homens ( Jo 12:35 -36).
Mas, por confiar no Pai é que a confiança do Messias é expressa no Salmo 64: – “Guarda a minha alma do temor do inimigo!” (v. 1) Quais seriam as armas dos inimigos dos Messias? A resposta é: a língua!
“A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua língua espada afiada“ ( Sl 57:4 );
“Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios” ( Sl 140:3 ).
Os inimigos de Davi possuíam espadas afiadas, mas o Filho de Davi, o Messias, enfrentaria homens que possuíam as línguas afiadas como se fossem espadas. As setas deles constituíam-se em palavras amargas! Secretamente engendravam planos para dar cabo do Messias ( Jo 11:53 ), mas sendo a Palavra de Deus escudo e broquel, o Messias não seria atingido.
Por se desviarem da palavra do Senhor, os filhos de Israel tornaram-se uma vinha que produzia vinho venenoso “O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras” ( Dt 32:33 ). Este veneno estava na língua dos filhos do povo de Jacó “Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá.)” ( Sl 140:3 ). Mas, Jesus sabia desta peculiaridade:
“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” ( Mt 12:34 ).
Mil à direita e dez mil à esquerda
“Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará próximo de ti. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios” (Salmo 91:7 -8)
Para evitar a queda de muitos, o precursor do Messias foi enviado para que fosse arrancado os tropeços do caminho do povo para que não rejeitassem a Cristo “E dir-se-á: Aplanai, aplanai a estrada, preparai o caminho; tirai os tropeços do caminho do meu povo” ( Is 57:14 ).
Há muito o profeta Isaías predisse que os moradores das duas casas de Israel haveriam de tropeçar por se escandalizar do Cristo “Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém” ( Is 8:14 ).
A queda de milhares estava prevista, pois tropeçariam na pedra de esquina “E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” ( 1Pe 2:8 ).
O Cristo não precisaria fazer nada com relação aos ímpios, antes só olhar a recompensa deles ( Sl 56:7 ). Por quê? Porque Cristo escolheu o Senhor como refúgio, o Deus que tudo executa para o Messias ( Sl 57:2 –3); “E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” ( Jo 12:47 ).
Jesus não veio para condenar, antes para salvar, portanto, ele não emitia juízo acerca das pessoas ( Jo 8:15 ; Jo 12:47 ).
Deus é refúgio
“Porque Tu, ó SENHOR, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a Tua habitação” (Salmo 91:9)
Todas as promessas seriam levadas a efeito porque o Messias fez do Altíssimo o seu lugar de refugio. Este verso remete ao pensamento do verso 1: O Verbo habitava o lugar oculto do Altíssimo, porém, após ser introduzido no mundo como Primogênito de Deus, o Verbo encarnado passou a descansar na
sombra do Onipotente ( Sl 57:1 ).
Aquele que fez a sua habitação (refugiou-se) no Altíssimo (v. 9) é quem reside no esconderijo do Altíssimo (v. 1). Quem fez a sua morada no Altíssimo? O único homem que fez a sua morada no Altíssimo foi o Descendente prometido a Davi, o Senhor que o salmista viu à mão direita de Deus.
Proteção perene
“Nenhum mal Te sucederá, nem praga alguma chegará próximo da Tua tenda. Porque aos Seus anjos dará ordem a Teu respeito, para Te guardarem em todos os Teus caminhos. Eles Te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o Teu pé contra uma pedra. Pisarás sobre o leão e a cobra; calcarás aos pés o leão jovem e o dragão” (Salmo 91:10 -13)
Quando Jesus nasceu, muitas crianças foram mortas, porém, mal algum O atingiu. A sua família mudou-se para o Egito, e nenhuma praga acometeu a sua família terrena ( Mt 2:16 ). Aos anjos foi dado ordem acerca do Messias para guardá-lo em todos os seus caminhos. Eles haveriam de amparar o Cristo para livrá-lo de todo mal ( Sl 57:3 ; Sl 56:13 ).
O diabo ciente de que as promessas da profecia deste Salmo faziam referência a Cristo, lançou mão do Salmo 91 para tentá-Lo. E o diabo disse:
“Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo. Pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e eles te tomarão nas mãos, para que não tropeces nalguma pedra” ( Mt 4:6 ).
Observe que:
- O diabo conhece as Escrituras;
- Lançou dúvidas acerca da filiação do Messias;
- Estabeleceu um teste para por à prova a filiação divina de Cristo;
- Deu uma ordem com falso embasamento nas Escrituras;
- Ele sabia que o cuidado de Deus estipulado no Salmo 91 para o Messias visava protegê-Lo de ataques direto dos anjos decaídos e dos homens maus ( Sl 56:5 ; Mt 2:12 e Mt 2:13 );
O diabo sabia que Deus não interfere nas decisões dos homens, e que, se Cristo decidisse pular, não seria socorrido, antes sofreria as consequências da sua decisão, assim como sofreu o primeiro Adão.
Através da verdade (v. 4) que é escudo e broquel, Jesus respondeu: “Também está escrito: não tentarás o Senhor teu Deus” ( Mt 4:7 ). A confiança deriva do amor e da fidelidade de Deus ( Sl 57:3 b), atributos imutáveis, visto que ao prometer, Ele se interpôs com juramento, segundo o seu conselho. Duas coisas imutáveis ( Hb 6:18 ).
O Messias estava descansado à sombra do Onipotente, ou seja, ciente da proteção divina em todos os seus caminhos e que não haveria de ‘tropeçar’, porém, tal proteção não englobava forçar Deus agir.
Foi dado poder ao Filho do homem para andar entre o leão e a cobra. Acerca da serpente temos uma profecia no Gênesis: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” ( Gn 3:15 ).
Além de ter ferido a cabeça da serpente, o Salmo 57 demonstra que os filhos do povo do Messias são comparáveis às bestas famintas, ou seja, aos leões “A minha alma está entre leões; estou deitado entre bestas famintas, homens cujos dentes são lança e flechas, e cuja língua é espada afiada” ( Sl 57:4 ).
As ações destes homens resumem-se em atacar o Cristo com palavras, mentiras forjadas em seus conselhos malignos com o intento de matar o enviado de Deus ( Sl 1:1 ). Porém, mesmo entre leões e áspides, o Messias permaneceu descansado (deitado), pois confiava em Deus.
Vida eterna ao Filho
“Porquanto tão encarecidamente Me amou, também Eu O livrarei; pô-Lo-ei num alto retiro, porque conheceu o Meu nome. Ele Me invocará, e Eu Lhe responderei; estarei com Ele na angústia; dela O retirarei, e O glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias, e Lhe mostrarei a Minha salvação” (Salmo 91:14 -16)
Até o verso 13 do Salmo 91 o salmista profetiza, do verso 14 ao 16, ele transcreve o que o Senhor diz, ou seja, mudou a pessoa do discurso.
Como o Messias descansou (confiança), o Pai Eterno O livrou “Pois tu livraste a minha alma da morte, como também os meus pés de tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz da vida” ( Sl 56:13 ). Enquanto no Salmo 91 temos uma profecia em que o Senhor protocola uma promessa de livramento que seria concedido ao Messias, no Salmo 56 temos o Messias declarando que havia sido resgatado da morte.
Por ‘conhecer’ (união intima) o Pai, Cristo foi posto num alto retiro, ou seja, à destra de Deus nas alturas ( Sl 110:1 ; Jo 10:30 ). A palavra ‘conhecer’ tem dois significados na
Bíblia. Um dos significados é ‘ter ciência de algo’, ‘saber acerca de’, porém, o significado que o termo ‘conhecer’ tem neste Salmo é o de comunhão íntima.
Do mesmo modo que o Pai e o Filho são pessoas distintas, e, no entanto, são um ( Jo 10:30 ), todos quantos crerem no Filho são um com o Pai e o Filho ( Jo 17:21 -23).
Cristo haveria de invocar o Senhor ( Sl 56:1 ; Sl 57:1 ), e Deus haveria de respondê-lo. E como Deus haveria de respondê-lo? Não deixando o Cristo à mercê da angustia? Não! Deus não prometeu livrá-lo da angustia, antes prometeu estar com Ele durante o período da angustia. Para que Deus estivesse presente na angustia, necessariamente o Cristo deveria ser e foi angustiado “E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se” (Mc 14:33 ).
Cristo não foi abandonado na cruz, antes o Pai o ouviu e o atendeu ( Sl 22:24 ). Pelo fato de ter citado as Escrituras quando estava na cruz, muitos reputam que Cristo foi abandonado, mas esta má leitura ocorre quando as pessoas não conseguem ver que os salmos são profecias ( Sl 22:1 ; Mt 27:46 ).
Como lemos nos evangelhos, Jesus clamou ao Pai no Getsêmani, porém, Ele foi angustiado até a morte, e morte de cruz “Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar” ( Mt 26:36 ). O Messias foi glorificado quando entregou ao Pai o seu espírito, momento em que o Pai O retirou da angustia “Em ti, ó Senhor, me refugio; nunca seja eu envergonhado; livra-me pela tua retidão (…) Nas tuas mãos encomendo o meu espírito…” ( Sl 31:1 -5).
O Cristo de Deus foi glorificado com a glória que Ele tinha antes de ser introduzido no mundo, e entrou no descanso do Pai até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.
“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” ( Jo 17:5 ).
A promessa do Pai para o Filho é abundância de dias, longura, ou seja, vida eterna “Vida te pediu, e lha deste, mesmo longura de dias para sempre e eternamente” ( Sl 21:4 ). O Filho do homem viu a salvação de Deus:
“Tu és o mais formoso dos filhos dos homens e os lábios foram ungidos com a graça, por isso Deus te abençoou para sempre. Cinge a tua espada à coxa, ó valente; cinge-te de glória e majestade” ( Sl 45:2 -3).
A cerca do Verbo Eterno que assumiu a condição de Filho, o Salmo 45 declara: “O teu trono , ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a retidão e odeias a impiedade; portanto Deus, o teu Deus te ungiu com o óleo de alegria, mais do que a teus companheiros” ( Sl 45: 6 -7 ; Hb 1:8 ).
Agora que você sabe que estas promessas foram feitas para o
Filho do homem e, que elas dizem do Cristo, creia no enviado de Deus, Jesus Cristo homem, que foi morto e glorificado ( 1Tm 3:16 ; Rm 1:2 -4), para que você possa receber de Deus poder para ser feito um dos seus filhos ( Jo 1:12 ). Através da fé em Cristo você passará a ser co-herdeiro de Deus e participante das promessas
“Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós” ( 2Co 1:20 ; 2Pe 1:4 ).
Você que creu em Cristo conforme diz as Escrituras ( Jo 7:38 ), e que é, portanto, uma nova criatura ( 2Co 5:17 ), não pode se deixar levar por crendices várias, tais como rezas e orações com trechos de Salmos, ou de qualquer outra parte das Escrituras.
Não se deixe levar por supostos ‘desafios de fé’, onde certas pessoas incitam os seus ouvintes a doarem seus bens ou que se lance em certas promessas, que muitas das vezes são vazias. Dizeres como: “Se você não for abençoado rasgo a minha Bíblia!”; “Se você tem fé doe o melhor, ou doe tudo”.
A Bíblia garante que todos os que creem já receberam de Deus todas as bênçãos espirituais ( Ef 1:3 ; 2Pe 1:3 ). Se alguém promete bênçãos que não estejam elencadas no capítulo 1 da carta de Paulo aos Efésios, ou às que estão enumeradas no Salmo 103, desconfie.
Da mesma forma que o Pai prometeu ao Filho estar com Ele na angustia, Jesus também prometeu aos que creem estar com eles todos os dias ( Mt 28:20 ). Para que tivessem paz, alertou que, no mundo os cristãos terão aflições ( Jo 16:33 ). Qualquer que prometa livrá-lo das aflições diárias, não fala conforme a verdade do evangelho, visto que o próprio Cristo não prometeu livrar os cristãos das aflições, antes avisou que seriam suscetíveis as aflições.
Os cristãos devem estar certos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus e que em todas as coisas são mais que vencedores “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” ( Rm 8:28 ); “Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” ( Rm 8:37 ).