domingo, 24 de março de 2019

O que é mieloma múltiplo?

O mieloma múltiplo, a leucemia, o linfoma e a síndrome mielodisplásica são as principais causas de câncer que acometem as células de defesa do sangue, chamados popularmente de glóbulos brancos.

O mieloma múltiplo corresponde a 1% de todos os cânceres e a 10% dos cânceres sanguíneos. A sua incidência na população geral é de aproximadamente 5 casos para cada 100.000 habitantes.

O mieloma é uma doença típica de idosos, apenas 2% dos casos ocorrem antes dos 40 anos e menos de 10% antes dos 50 anos. Ele é duas vezes mais comum em negros do que em brancos.

Leia os próximos parágrafos com calma, pois o seu entendimento é essencial para a compreensão dos sintomas e das alterações laboratoriais da doença.

O mieloma múltiplo é o câncer do plasmócito, a célula responsável pela produção dos anticorpos, chamados também de imunoglobulinas ou gamaglobulinas.

Assim como ocorre em outros tipos de câncer, no mieloma, mutações genéticas fazem com que o organismo perca o controle da produção de plasmócitos, que passam a se multiplicar indefinidamente. O resultado é um acúmulo de células plasmáticas malignas na medula óssea, órgão responsável pela produção de todas as células do sangue, e uma consequente produção excessiva de anticorpos.

Existem cinco tipos de anticorpos:

IgG – Imunoglobulina G.
IgA – Imunoglobulina A.
IgM- Imunoglobulina M.
IgD – Imunoglobulina D.
IgE – Imunoglobulina E.
Dependendo do tipo de plasmócito que sofre a mutação maligna, teremos a hiperprodução do clone de um destes tipos de imunoglobulina (anticorpo). Por exemplo, no chamado mieloma IgG, temos a proliferação de plasmócitos produtores do anticorpo IgG, o que leva à produção excessiva de clones de imunoglobulina G.

O tipo de mieloma múltiplo mais comum é secretor de IgG, seguido, em ordem decrescente, pelos mielomas produtores de IgA e IgM. Mielomas secretores de IgD ou IgE são raros.

O mieloma secretor de IgM recebe o nome de Macroglobulinemia de Waldenström e apresenta alguns aspectos clínicos diferentes do mieloma múltiplo. Falaremos especificamente da Macroglobulinemia de Waldenström em um artigo à parte que será escrito brevemente.

Esses clones de anticorpos produzidos no mieloma múltiplo são chamados de paraproteínas ou proteínas M. Através de análises de sangue essas paraproteínas podem ser detectadas (explico mais à frente como é feito o diagnóstico). A existência de proteínas M, ou seja, de clones de anticorpos, recebe o nome de gamopatia monoclonal.

Portanto, toda vez que detectamos um número elevado de anticorpos no sangue, sendo todos eles exatamente iguais, ou seja, clones, estamos diante de uma gamopatia monoclonal.

É importante entender a diferença entre anticorpos monoclonais e policlonais. Em casos de infecções ou processos alérgicos também podemos ter elevação dos anticorpos, estes porém, não são todos um único clone, pois são produzidos por diferentes plasmócitos. Neste caso temos um gamopatia policlonal, que é uma resposta normal do organismo a processos infecciosos.

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Sintomas do mieloma múltiplo
A medula óssea, responsável pela produção das células do sangue, fica localizada no interior dos ossos. Como uma das características do mieloma múltiplo é a proliferação sem controle dos plasmócitos dentro da medula, uma das principais manifestações clínicas do mieloma é a lesão dos ossos.

O mieloma múltiplo costuma acometer vários ossos diferentes do nosso esqueleto, principalmente aqueles que possuem medula óssea no seu interior. Os principais exemplos são:Coluna vertebral.

Crânio.
Quadril.
Costelas.
Fêmur (osso da coxa).
Úmero (osso do braço).
As lesões ósseas causadas pelo mieloma podem se apresentar como fraturas, que surgem muitas vezes de forma espontâneas ou após mínimos traumas. Também são comuns quadros semelhantes à osteoporose ou erosões focais parecidas com metástases de outros cânceres para ossos, conhecidas como lesões líticas (leia: OSTEOPOROSE – Sintomas, Causas e Tratamento).

Portanto, como a lesão dos ossos é muito comum, o principal sintoma do mieloma costuma ser a dor óssea. Quando o osso acometido é uma ou mais vértebras da coluna vertebral, pode haver colapso da vértebra e compressão da medula nervosa (não confundir com a medula óssea). Como consequência, além da dor lombar, o paciente também pode apresentar fraqueza e perda da sensibilidade nos membros inferiores.

A destruição dos ossos provoca um aumento da liberação do cálcio para sangue provocando a sua elevação. Ao cálcio elevado no sangue damos o nome de hipercalcemia. Níveis de cálcio sanguíneo acima de 15 mg/dl colocam a vida em risco e podem cursar com sintomas tais como: vômitos, excesso de urina (leia: URINA EM EXCESSO), alterações neurológicas, letargia e coma.

O comprometimento dos rins, que provoca insuficiência renal (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA e INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA), é uma das principais manifestações do mieloma múltiplo. A lesão dos rins ocorre principalmente devido à lesão dos túbulos renais pelas imunoglobulinas, pela hipercalcemia ou por invasão dos rins pelos plasmócitos malignos.

Outra complicação comum do mieloma múltiplo é a anemia. Com a medula óssea completamente invadida pelos plasmócitos, ocorre uma progressiva redução na produção de outras linhagens de células sanguíneas, como as hemácias (glóbulos vermelhos), o que acaba por provocar a anemia (leia: SINTOMAS DA ANEMIA). Seguindo o mesmo raciocínio, também podemos ter queda das concentrações de plaquetas e de leucócitos (glóbulos brancos).

Apesar de haver um elevado número de anticorpos circulantes, na gamopatia monoclonal eles são ineficientes contras as infecções. O organismo perde a capacidade de criar anticorpos específicos contra cada invasor e mantém a produção de apenas um clone de imunoglobulinas. Por isso, apesar de ter excesso de anticorpos, o paciente com mieloma múltiplo é um indivíduo mais susceptível a infecções.

Resumindo, o quadro típico do mieloma é o de um paciente com mais de 65 anos, com dor óssea, normalmente lombar, associado a um quadro de anemia sem causa aparente, podendo ou não ter alterações no funcionamento dos rins.

Diagnóstico do mieloma múltiplo
Através de análises específicas de sangue e urina é possível identificar a presença dos clones de anticorpos. Esta pesquisa é feita por um exame chamado eletroforese de proteínas com imunofixação.

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Alguns marcadores sanguíneos também costumam estar elevados no mieloma múltiplo, tais como o VHS, o LDH e a Beta 2-microglobulina (leia: EXAMES DE SANGUE | VHS, PCR, LDH, Ferritina e CK). É importante destacar que estes exames de sangue são inespecíficos e podem estar alterados em várias outras doenças que não o mieloma.

As radiografias de quadril, coluna, crânio e tórax conseguem detectar as lesões ósseas do mieloma e costumam fazer parte do processo de diagnóstico. A dosagem da creatinina sanguínea também é útil, pois ajuda a identificar lesões dos rins (leia: EXAME DA CREATININA E UREIA).

Biópsia de medula óssea
Se os exames acima sugerirem a existência do mieloma, o paciente deve ser encaminhado a um médico hematologista para realização da biópsia da medula óssea, que é o exame que fornece o diagnóstico definitivo do mieloma. Se na biópsia ficar demonstrado que mais de 10% das células da medula são compostas por plasmócitos, o diagnóstico de mieloma múltiplo está confirmado.

Tratamento do mieloma múltiplo
Não existe cura para o mieloma múltiplo. O tratamento visa o alívio dos sintomas, melhora da qualidade de vida e o aumento do tempo de sobrevida.

As opções de tratamento mais utilizadas são:

Quimioterapia, normalmente com um fármaco chamado Melfalan.
Corticoides, como a dexametasona (leia: INDICAÇÕES E EFEITOS DA PREDNISONA E CORTICOIDES).
Talidomida ou Lenalidomina.
Transplante de medula óssea.
A sobrevida do paciente com mieloma é, em média, de 5 anos para os casos detectados inicialmente, e de 2 anos para os casos mais avançados.

Em alguns casos, a produção de imunoglobulinas é tão intensa que deixa o sangue espesso, sendo preciso realizar sessões de plasmaférese, que é um procedimento que reduz a concentração de células no

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