A retomada ou o início de atividades físicas por quem já teve covid-19 deve ser feita após check-up cardiológico. Mesmo em pacientes que apresentaram sintomas leves, é possível que o vírus cause alguma sequela no órgão, que pode levar a complicações e até à morte. O alerta foi feito pelas Sociedades Brasileiras de Cardiologia (SBC) e de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), que elaboraram um documento com base em estudos que apontaram a relação entre a infecção pelo vírus e problemas no coração
No documento, as entidades citam a análise de dados da China, da Itália e dos Estados Unidos, além de estudos sobre a doença, que indicaram a ocorrência de lesão cardíaca em 20 a 30% dos pacientes hospitalizados e ligação com a morte de 40% dos infectados. Arritmias, miocardite e insuficiência cardíaca estão entre complicações que podem aparecer.
Tanto para esportistas recreativos quanto para atletas que tiverem a doença, as sociedades recomendam a avaliação médica e um eletrocardiograma como procedimentos básicos para poder se exercitar após ter a infecção. Também é necessário aguardar o desaparecimento dos sintomas. Dependendo dos resultados, novos exames podem ser solicitados.
"O que motivou a elaboração do documento foi o relato de problemas cardíacos em pacientes assintomáticos. Já sabíamos que o coração pode ser acometido em casos de viroses, porque os vírus podem inflamar o coração. Com covid, acontece em frequência maior na literatura internacional e é mais comum no indivíduo que teve quadro grave. Um trabalho alemão estudou 100 pacientes após 70 dias de recuperação e 70% tinham alguma alteração no exame de ressonância magnética cardíaca", explica Cléa Simone Sabino de Souza Colombo, presidente do grupo de estudos de cardiologia do esporte da SBC e coordenadora do documento.
Médico especialista em medicina do exercício e do esporte da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Marcelo Leitão explica que, no caso de diagnóstico de miocardite, é necessário fazer um acompanhamento e pausar as atividades físicas.
"Esse quadro é diagnosticado com vários métodos, como eletrocardiograma e dosagem de enzimas cardíacas, principalmente a troponina, mas o melhor exame é a ressonância magnética cardíaca. Quando se faz exercício na miocardite, pode, muitas vezes, aumentar a inflamação e piorar a evolução da miocardite. O indivíduo que tem o diagnóstico tem de ficar sem atividade física no período entre três a seis meses e tem de ser reavaliado."
Com os resultados normalizados, é possível voltar a se exercitar. Cléa diz que a recomendação não significa que quem teve covid-19 não pode fazer atividade física, mas que a prática deve ser retomada após a realização de exames.
"O que a gente ressalta é que fazer atividade física melhora a saúde, o indivíduo tem uma imunidade melhor, pode responder melhor em uma fase aguda e não ser obeso também é um fator positivo. No caso da recuperação pós-covid, os que ficam internados têm perda muscular grande, a sarcopenia, e praticar exercícios é importante.
Preocupação
Em academias, a possibilidade de complicações em pessoas que tiveram a covid-19 é uma preocupação. "Enfatizamos para não voltar com a mesma carga nem com o mesmo tipo de série. Tem de ver individualmente o histórico e o que pode ser feito. Ainda porque temos de atrelar o uso da máscara e evitar desconforto, saber o tipo de máscara ideal", diz Eduardo Netto, diretor técnico da academia Bodytech