segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Tratamento da dor


Tratamento da dor

Por 

James C. Watson

, MD,

  • Mayo Clinic

Em alguns casos, o tratamento da doença de base elimina ou minimiza a dor. Por exemplo, a imobilização de uma fratura ou o tratamento antibiótico para uma articulação infectada reduzem a dor. No entanto, mesmo quando a doença subjacente é tratada, podem ser necessários medicamentos (analgésicos) para a rápida supressão da dor.

O médico escolhe o analgésico em função do tipo e da duração da dor, ponderando os possíveis riscos e benefícios. A maioria dos analgésicos é eficaz para a dor nociceptiva (causada por lesões comuns dos tecidos), mas menos eficaz para a dor neuropática (devido a lesão ou disfunção dos nervos, medula espinhal ou cérebro), que muitas vezes exige medicamentos diferentes. Para alguns tipos de dor, em especial a dor crônica, são também importantes os tratamentos não farmacológicos.



Analgésicos são divididos em três categorias:

  • Analgésicos opioides (narcóticos)

  • Analgésicos não opioides

  • Analgésicos adjuvantes (medicamentos que são geralmente utilizados para tratar outros problemas como convulsões ou depressão, mas que também podem aliviar a 

Analgésicos opioides (algumas vezes chamados narcóticos) são eficazes para muitos tipos diferentes de dor. Geralmente são os analgésicos mais fortes.

Os opioides são quimicamente relacionados à morfina, uma substância natural extraída da papoula. Alguns opioides são extraídos de outras plantas e outros são produzidos em laboratório.

Os opioides são a base para o tratamento de:

  • Dor súbita e grave, relativamente curta (aguda), conforme ocorre após cirurgias ou resulta de queimaduras ou fraturas

  • Dor crônica devido a câncer ou outro distúrbio que encurta a expectativa de vida (distúrbio terminal)

  • Dor crônica em pessoas que estão recebendo cuidados paliativos

Os opioides são preferidos para essas doenças pela forte eficácia no controle da dor.

Os opioides podem ser subusados nessas situações porque os médicos

No entanto, em pessoas com dor devido a câncer ou outro distúrbio terminal ou sob cuidados paliativos, as preocupações sobre os efeitos colaterais não devem limitar o uso de opioides porque os efeitos colaterais podem ser geralmente prevenidos ou tratados, e a dependência é uma preocupação menos importante.

Se a dor crônica não for devido a câncer ou um distúrbio terminal, os opioides não são geralmente a primeira escolha para o tratamento, pois os efeitos colaterais da terapia de longo prazo com opioides pode ser séria. Os efeitos colaterais dos opioides incluem distúrbio de uso de opioides (dependência), superdosagem, uma perigosa insuficiência respiratória (depressão respiratória) e morte. Assim, quando a dor crônica não for devido a câncer ou um distúrbio terminal, outros tratamentos, tais como medicamentos não opioides e tratamentos não farmacológicos, são usados primeiro. Se esses tratamentos forem ineficazes, os médicos podem considerar o uso de opioides, mas somente quando a necessidade de alívio da dor e melhora do funcionamento superar os riscos de opioides.

Os analgésicos opioides não são adequados para todas as pessoas.

Os médicos fazem perguntas às pessoas antes de prescreverem opioides a elas. As perguntas destinam-se a determinar se as pessoas são propensas a

  • Uso indevido ou abuso do medicamento

  • Uso para outras finalidades (tais como vendê-los ou utilizá-los para dormir)

  • Apresentar efeitos colaterais ao medicamento

Os médicos também explicam quais são os riscos e efeitos colaterais dos opioides e como tomar e armazenar os opioides corretamente.

A dose de um opioide é elevada gradualmente, em etapas, até que a dor seja aliviada ou os efeitos colaterais do opioide tornem-se intoleráveis. Idosos e recém-nascidos, que são mais sensíveis aos efeitos de opioides, recebem doses mais baixas.

Os opioides são mais eficazes quando tomados de acordo com o cronograma estabelecido e antes da dor tornar-se intensa.

Se um opioide isoladamente não proporcionar alívio suficiente da dor, a dose poderá ser aumentada ou outro medicamento (tal como um AINE ou um analgésico adjuvante) poderá ser adicionado, por exemplo, nas seguintes situações:

  • A dor piora temporariamente.

  • O indivíduo necessita exercitar-se e o movimento aumenta a dor.

  • Um curativo será trocado em breve.

Em indivíduos com dor crônica, o aumento da dose de um opioide não necessariamente resulta em alívio adicional da dor e pode aumentar o risco de efeitos colaterais.

Para dor crônica, os opioides são frequentemente usados com analgésicos não opioides, tais como medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), ou analgésicos adjuvantes, tais como gabapentina (um anticonvulsivante) ou antidepressivos tricíclicos. Analgésicos não opioides, tais como paracetamol, são, algumas vezes, combinados com opioides em um único comprimido.

Os médicos geralmente monitoram a resposta a opioides para determinar se estão controlando a dor eficazmente e/ou se as pessoas estão apresentando efeitos colaterais. Com base nesta informação, os médicos determinam se a terapia contínua com opioides é adequada. Quando a dor diminui, os médicos reduzem a dose do opioide gradualmente, e quando possível, suspendem e iniciam ou continuam o tratamento com um analgésico não opioide.

Os opioides fornecem um alívio de longo prazo para algumas pessoas, e geralmente, apenas aliviam parcialmente a dor. Algumas pessoas decidem suspender o uso de opioides porque o alívio da dor é insuficiente ou porque não conseguem tolerar os efeitos colaterais.

Efeitos colaterais aos opioides

Os opioides apresentam muitos efeitos colaterais. Os efeitos colaterais têm maior probabilidade de ocorrer em pessoas com certas doenças: insuficiência renaldoença hepáticadoença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)apneia do sono não tratada, demência ou outro transtorno cerebral.

Os seguintes efeitos comumente ocorrem quando os opioides são iniciados:

  • Sonolência

  • Confusão mental

  • Náusea e vômito

  • Prurido

  • Constipação

  • Retenção de urina

  • Redução grave da respiração

  • Contração involuntária dos músculos (chamada mioclonia)

Sonolência é um efeito colateral comum de opioides. Para algumas pessoas que recebem opioides, a sonolência desaparece ou diminui em alguns dias. Se as pessoas continuarem a sentir sonolência, pode-se tentar utilizar um opioide diferente uma vez que graus de sonolência causados por diferentes opioides podem variar. Antes de um evento importante que requeira estado de alerta, as pessoas podem receber um medicamento estimulante (tal como metilfenidato ou modafinila) para compensar a sonolência. Para algumas pessoas, consumir bebida com cafeína ajuda a compensar a sonolência. Ao sentir sonolência após tomar um opioide, deve-se evitar dirigir veículos e ter cuidado extra para evitar acidentes com quedas.

Confusão também pode ser resultado do uso de opioides, especialmente se as pessoas são mais velhas. Os opioides aumentam o risco de quedas em pessoas mais velhas.

Por vezes, náuseas ocorrem em pessoas que sentem dor, e os analgésicos opioides podem aumentar essa sensação. Drogas antieméticas, administradas sob a forma de comprimidos, supositórios ou injeções, podem ajudar a prevenir ou aliviar náuseas. Metoclopramida, hidroxizina e proclorperacina são alguns dos antieméticos mais consumidos.

Essa coceira causada pelo uso de opioides pode ser aliviada por um anti-histamínico, tal como difenidramina, tomado por via oral ou dado por via intravenosa.

Constipação frequentemente ocorre, sobretudo em idosos. Os laxantes, como a senna, previnem e aliviam a constipação intestinal. O aumento da ingestão de líquidos também pode ajudar a aliviar esse sintoma. Algumas pessoas podem precisar de enemas. Quando essas medidas não são eficazes, os médicos podem prescrever um medicamento (tal como metilnaltrexona) que bloqueia apenas os efeitos dos opioides no estômago e intestino e não diminuem o alívio da dor.

Retenção de urina pode ser resultado do uso de opioides, especialmente em homens com próstata aumentada. Tentar urinar uma segunda vez após uma pausa breve (dupla micção) ou aplicar pressão suave na parte mais baixa do abdômen (área sobre a bexiga) durante a micção pode ajudar. Às vezes, são usados medicamentos que relaxam os músculos da bexiga (como tansulosina).

Para a maior parte das pessoas, a náusea e a coceira desaparecem ou diminuem em alguns dias. Já a retenção urinária e a constipação geralmente desaparecem muito mais lentamente, se tanto.

Efeitos colaterais sérios podem ocorrer quando as pessoas fazem muito uso de um opioide. Esses efeitos colaterais incluem uma redução grave da respiração (depressão respiratória), coma e até mesmo morte. Esses efeitos podem ser revertidos com naloxona, um antídoto geralmente aplicado por via intravenosa. Enfermeiros e familiares que cuidam do paciente devem estar atentos para observar qualquer efeito colateral sério aos opioides. A naloxona pode às vezes ser administrada (por exemplo, como uma injeção) por familiares bem como por profissionais de saúde.

Tolerância ocorre em algumas pessoas que tomam opioides repetidamente ao longo do tempo. Elas necessitam de doses mais elevadas uma vez que seu organismo se adapta ao medicamento e, portanto, responde de forma menos adequada ao mesmo. No entanto, para a maioria das pessoas, a mesma dose de opioide continua a ser eficaz por muito tempo. Frequentemente, a necessidade de uma dose mais alta indica que a doença está piorando, e não o desenvolvimento de tolerância.

Dependência física geralmente desenvolve-se em pessoas que tomam opioides por um longo período de tempo. Isso significa que apresentam sintomas de abstinência se o medicamento for suspenso. Os sintomas de abstinência incluem calafrios, cãibras abdominais e uma sensação de tremor. Quando se pretende suspender os opioides, depois de os ter consumido durante um longo período, a dose deve ser diminuída de forma progressiva para minimizar o desenvolvimento dos sintomas.

Dependência física não é o mesmo que vício, caracterizado por uma ânsia por medicamento e uso compulsório e incontrolado do medicamento, apesar dos danos causados ao usuário ou a outras pessoas. A maioria das pessoas que tomam opioides para controlar a dor, e não apresentavam previamente problemas com abuso de drogas, não se tornam viciadas em opioides. No entanto, os médicos regularmente monitoram quaisquer sinais de vício em pessoas que tomam analgésicos opioides.

Administração de opioides

Sempre que possível, os opioides são administrados por via oral. Quando os opioides são tomados por via oral, a dose e o horário podem ser ajustados mais facilmente. Quando precisam ser administrados por muito tempo, podem ser tomados por via oral ou aplicados por um adesivo na pele. Opioides são aplicados por injeções quando a dor aparece repentinamente ou quando as pessoas não podem tomá-los oralmente nem por um adesivo na pele.

Se as pessoas precisarem tomar opioides um por longo período e forem ajudadas por um opioide tomado por via oral, mas não tolerarem os efeitos colaterais, ele pode ser injetado diretamente no espaço em volta da medula espinhal por meio de uma bomba. Esse método leva altas concentrações do medicamento ao cérebro.

morfina, que é o protótipo desses fármacos, pode ser utilizada por via oral ou intravenosa. A morfina vem em apresentações de liberação prolongada, controlada e imediata que são tomadas por via oral.

A apresentação de liberação imediata da morfina fornece um alívio de curta duração e é geralmente utilizada para tratar dores agudas.

As apresentações de liberação controlada e prolongada proporcionam alívio de 8 a 24 horas. Essas apresentações têm sido amplamente utilizadas para tratar a dor crônica quando analgésicos não opioides não fornecem alívio suficiente da dor. No entanto, se a dor não estiver relacionada a câncer, os especialistas recomendam limitar o uso desses opioides de ação prolongada (apresentações de liberação controlada e prolongada).

Opioides de ação rápida (pastilhas ou comprimidos dissolúveis) são aplicados sob a língua (via sublingual) ou entre a gengiva e a bochecha (via bucal). Nestes locais, eles podem se dissolver e ser absorvidos através da membrana mucosa que envolve a bochecha ou cobre a região sob a língua. Essas apresentações não devem ser engolidas. Eles oferecem alívio muito rapidamente. Uma vez que agem rapidamente, o risco de efeitos colaterais pode ser maior. Eles são usados para a dor episódica em pessoas com câncer. A dor episódica é uma dor breve, frequentemente um surto intenso, que pode ocorrer quando o tratamento regularmente agendado não controla a dor.

São necessárias quantidades 2 a 3 vezes menores nas apresentações injetáveis de morfina do que na morfina por liberação imediata por via oral, pois quando ingerida, ela é quimicamente alterada (metabolizada) no fígado antes de chegar à corrente sanguínea. Em geral, a via usada não modifica os efeitos do medicamento, embora vias diferentes usem quantidades diferentes de morfina. O alívio da dor é mais rápido com o medicamento injetável do que oral, mas a duração é mais curta.

A morfina pode ser injetada em uma veia (por via intravenosa), num músculo (por via intramuscular) ou sob a pele (por via subcutânea).

  • Via intravenosa: O alívio da dor é quase imediato, mas não dura muito tempo.

  • Via intramuscular: O alívio da dor é menos rápido, mas dura mais tempo. Injeções intramusculares são dolorosas e o alívio da dor é menos previsível, por isso, essa via não costuma ser usada.

  • Via subcutânea: O alívio da dor é o mais lento, mas dura mais que as outras vias.

As injeções podem ser aplicadas em intervalos de poucas horas, ainda que múltiplas injeções possam ser incômodas. Nesse caso, a tendência é introduzir um cateter numa veia ou sob a pele, e ligá-lo a uma bomba de infusão que libere a morfina de forma contínua. Se necessário, a infusão constante pode ser complementada com doses suplementares. Por vezes, é utilizado um dispositivo que permite que a pessoa controle a liberação do medicamento apertando um botão. No entanto, o médico determina quanto e com que frequência o medicamento é liberado. Essa técnica é denominada analgesia controlada pelo paciente. Geralmente, as infusões contínuas são utilizadas para pessoas que estão hospitalizadas e apresentam dores intensas, como ocorre após uma cirurgia ou devido a uma doença grave como câncer ou crise de células falciformes.


Fonte MANUAL MSD




 

Outros tipos de dor que você precisa conhecer

dores de cabeça

Além da dor psicogênica aqui apresentada, existem ainda dois outros tipos de dor que você precisa conhecer e saber como diferenciar. Veja a seguir. 

Dor nociceptiva 

A dor nociceptiva se manifesta por meio de vias dolorosas a partir do receptor de dor, chamado nociceptor. Esse receptor é ativado por meio de um estímulo nocivo. Você provavelmente está bastante familiarizado com esse tipo de dor. 

Essa é a sensação que você sente quando se machuca. Ela está associada à lesões teciduais, musculares, ósseas e ligamentares. 

Existem ainda dois subtipos de dor nociceptiva. 

Visceral 

É aquela que atinge órgãos internos e geralmente é mais difícil de determinar. É causada principalmente por distensão e estiramento visceral. 

Somática

É aquela que atinge a superfície do corpo, como feridas, queimaduras, etc. 

Dor neuropática

A dor neuropática está relacionada a problemas no sistema nervoso e geralmente está associada a patologias mais graves como AVCs, lesões na medula, tumores e esclerose múltipla. 

Podem haver outros sintomas de alterações na sensibilidade como fraqueza e dormência, por exemplo, e até sintomas motores nesses casos.

O seu diagnóstico é bastante desafiador, já que é difícil mensurar a sensação dolorosa devido à imprecisão da queixa do paciente. 

Analgésicos comuns, opioides e antidepressivos podem ajudar no alívio da dor, contudo, é essencial que sua causa seja tratada para evitar possíveis complicações. 

A dor neuropática está presente em cerca de 10% da população e se não tratada pode tornar-se incapacitante. 

Sentir dor nunca é normal, independente do tipo de dor em questão. Diante de qualquer sintoma doloroso, recomendamos que consulte um médico de sua confiança para investigação do caso. O médico é a pessoa certa para te ajudar a identificar e a tratar o problema para que você recupere sua saúde e qualidade de vida, e evite complicações mais graves no futuro. 

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorando em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo (CMAeSP). Integrante da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Secretário do Comitê de Acupuntura da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Professor convidado do Curso de Pós-Graduação em Dor da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Revisor - Medicina Física e Reabilitação da Journal of the Brazilian Medical Association (AMB).

Dor psicogênica

 O que é dor psicogênica

Você já ouviu falar em dor psicogênica? Talvez você conheça melhor o problema como dor psicológica.

O quadro é marcado pela influência de fatores psicológicos na percepção de dor, e pode levar a dor crônica e até mesmo a incapacidade. 

Embora o médico investigue um distúrbio físico, nem sempre ele encontra, sendo difícil uma explicação adequada para a dor. Esse tipo de dor é por esse motivo muitas vezes considerado irreal, fruto da imaginação, o que de longe não corresponde a verdade. 

Essa alteração da sensibilidade, embora menos comum do que a dor neuropática ou nociceptiva, não é rara. O problema é muito comum em pacientes que sofrem com transtornos de ansiedade ou depressão

De qualquer forma, é sempre importante pesquisar a origem da dor, sendo essa física ou psicogênica. O médico, ao estudar o caso, irá direcionar o paciente quanto a exames e testes. Uma investigação aprofundada da saúde do indivíduo como um todo é importante para a escolha do tratamento adequado. 

O que é dor psicogênica?

dor psicogênica

Dor psicogênica é um tipo de dor em relação à origem, nesse caso, resultado da interação entre fatores físicos e psicológicos. Também conhecida como psicofisiológica, está muito ligada ao medo e a ansiedade, que tendem a tornar os neurônios mais sensíveis à dor por reduzirem os níveis das substâncias que modelam essa sensação. 

Em muitos casos o problema surge após a resolução da causa da dor, ou seja, o incômodo persiste, e muitas vezes se torna ainda mais intenso, apesar da sua origem já ter sido tratada. 

Para ser classificada como psicogênica, a dor não deve envolver nenhum mecanismo nociceptivo ou neuropático. Os sintomas psicológicos são suficientes para explicá-la, embora seu caráter subjetivo torne o diagnóstico mais complexo e demorado. 

Sendo assim, é necessária uma avaliação médica criteriosa de cada paciente com intuito de identificar a origem da dor. 

Nesses casos, os exames geralmente são inconclusivos e não demonstram nenhuma alteração física, não evidenciando enfermidade alguma. Um bom exemplo são pacientes que procuram o médico com queixas de dores no peito, mas não apresentam problemas fisiológicos no coração. Sintomas cardíacos são bastante comuns em pacientes fóbicos.

A dor psicológica causa uma dor física real, embora não esteja relacionada a alterações fisiológicas.

Características da dor psicogênica: É possível reconhecê-la?

Retornando ao exemplo anterior, seria possível ao paciente com dor no coração identificar se é uma dor física ou se trata-se de apenas um sintoma psicológico? 

Infelizmente, não. A dor psicológica causa uma dor física real, embora não esteja relacionada a alterações fisiológicas. Geralmente, o sintoma tem similaridades com dores já experimentadas em outros momentos da vida, que retornam através da memória da dor causando episódios dolorosos repetitivos e intensos.  Cada paciente descreve a sua dor de uma forma. Em sua maioria, queixam-se de dor austera e profunda, como uma facada. Outros dizem ter a sensação de que estão encostando feridas em ferro quente.   Dentre as mais comuns, dor de cabeça, dor muscular, dor nas costas, dor no peito e dor no estomago são frequentemente diagnosticadas como dores psicogênicas.   Se você tem histórico para esse tipo de dor, pode suspeitar sim que alguns sintomas possuem origem psicológica. Contudo, em todo caso, uma investigação é importante para descarte de possíveis alterações físicas envolvidas. 

Não se preocupe, assim como os demais tipos de dores, a dor psicogênica também tem tratamento. Falaremos mais sobre isso adiante.


Mecanismo da dor

O mecanismo da dor psicogênica ainda é pouco compreendido, embora venha chamando a atenção de estudiosos de todos os lugares do mundo. Acredita-se que fatores ambientais podem estar envolvidos, em especial aqueles relacionados a alterações do estado e da função do sistema nervoso. 

Até então é aceita a participação de uma combinação complexa de eventos envolvendo questões físicas e psicogênicas. 

No entanto, cada caso é único e deve ser avaliado de maneira individualizada. Situações particulares estão envolvidas com a iniciação dos sintomas e podem ser associados às suas causas. 

Basta comparar as reações de diferentes indivíduos em circunstâncias similares.

Talvez você sinta muita dor de cabeça quando passa por momentos estressantes, enquanto outros indivíduos descrevem dor no peito, por exemplo. 

Mais uma vez ressaltamos a importância da análise clínica de cada paciente.

Gestão

Geralmente, quando sentimos dor e visitamos o consultório médico, são indicadas terapias capazes de resolver o problema, ou seja, de tratar a origem da dor. Contudo, a gestão da dor psicogênica é diferente, já que é difícil endereçar o problema. 

É necessário então avaliar uma série de fatores que podem possivelmente estar relacionados ao quadro, resolvendo as mais diversas questões envolvidas com as causas da dor. 

Os tratamentos disponíveis são bastante variados e podem ser combinados para melhorias mais rápidas. Em geral, o prognóstico é positivo e a maioria dos pacientes demonstra melhorias significativas a curto prazo. 

Tratamento para dor psicogênica 

Embora ainda se entenda pouco sobre o mecanismo por trás desse tipo de dor, e suas causas ainda não sejam conhecidas, existem diferentes opções terapêuticas capazes de ajudar pacientes que convivem com esse problema. 

A dor, por ser diretamente influenciada por fatores psicológicos, irá demandar um acompanhamento com equipe multidisciplinar, que  deverá contar com um psicológico ou um psiquiatra. O tratamento deve ser adequado às necessidades individuais de cada paciente com o objetivo de melhorar tanto sua saúde física como psicológica.

Tratamento medicamentoso

Alguns medicamentos podem ajudar no alívio da dor. O tratamento medicamentoso é importante para controlar possíveis complicações da dor psicogênica como insônia, ansiedade e depressão. 

Antidepressivos tricíclicos como a imipramina e os inibidores seletivos de serotonina e noradrenalina são os mais usados nesses casos. 

O uso de fármacos deve ser feito estritamente sob prescrição médica. A automedicação é contraindicada e pode trazer prejuízos à saúde. 

Psicoterapia

Geralmente, a psicoterapia é o primeiro recurso terapêutico escolhido para combate a dor psicogênica. O tratamento é realizado por meio do dialogo entre o paciente e o terapeuta, que lança mão de diferente ferramentas na tentativa de ajudar o indivíduo a compreender a si mesmo, seus sentimentos e comportamentos. 

Com a ajuda de um psicólogo, é possível se aproximar das causas da dor, tratar distúrbios psicológicos e eliminar sintomas que prejudicam a qualidade de vida do indivíduo. 

Técnicas de relaxamento

Aquietar o corpo é um meio de aquietar também a mente. Hoje em dia muitas pessoas sentem dificuldades de relaxar. Aprender a assumir o controle de si mesmo é muito importante. As técnicas de relaxamento são uma excelente forma de lidar com a dor psicogênica. 

É preciso treino para controlar a respiração. Você não conseguirá fazer isso enquanto faz suas atividades diárias. Sendo assim, é necessário um momento específico, um tempo para que você possa acessar a sua mente e estimular o seu corpo a encontrar calmaria. 

Alguns profissionais podem te ajudar nesse sentido, em especial o terapeuta. Geralmente, músicas leves, chás, um ambiente confortável, massagens corporais são boas alternativas para você que deseja começar sozinho. 

Técnicas de meditação

A meditação é o caminho para quem precisa desenvolver disciplina emocional, o que pode ajudar muito pessoas que sofrem com dores psicogênicas. A técnica é super acessível e você pode optar por contar a ajuda de um profissional ou mesmo fazer sozinho. 

Meditar é uma forma de aquietar a mente, lidar com estresse do mundo e assumir o controle de si. Essa é uma excelente ferramenta para lidar com fatores que estejam nos influenciando negativamente. 

Os benefícios são muitos, melhora a concentração, a consciência, promove autodisciplina, relaxamento muscular e ajuda a focar a mente, propiciando o alcance de um estado de maior clareza mental. 

TENS

Muito usada no tratamento dos mais diversos tipos de dores, a sigla TENS vem do inglês Transcutaneous electrical nerve stimulation, que significa neuroestimulação elétrica transcutânea, técnica baseada na teoria das comportas de dor. Sua principal finalidade é analgesia, para qual tem se mostrado bastante efetiva. 

O método é seguro, rápido e não invasivo. Além disso, pode ser usado para dores crônicas e agudas de diferentes origens, reduzindo a necessidade de uso de medicamentos, que poderiam vir a causar efeitos colaterais. 

Na prática, consiste na aplicação de impulsos elétricos na pele por meio de aparelhos específicos. A eletricidade ativa mecanismos internos de controle da dor, fazendo com que o sistema nervoso libere analgésicos naturais, ou bloqueando os sinais de dor enviados ao cérebro. 

O procedimento dura entre 20 a 40 minutos e pode ser realizado no consultório, não há necessidade de anestesia e os riscos de complicações são baixíssimos. A maioria dos pacientes apresenta ótimos resultados, ficando satisfeitos com o tratamento. 

Biofeedback

biofeedback também é muito usado no tratamento da dor psicogênica. A ideia é permitir que a pessoa desenvolva autorregulação, o que pode ser útil nos mais diversos distúrbios. 

O indivíduo aprende a regular suas reações fisiológicas e emocionais por meio de um treinamento que envolve conscientização e relaxamento, principalmente. 

Todo esse processo torna-se possível por meio da medição de processos biológicos como frequência cardíaca, pressão arterial, tensão muscular, atividade cerebral, entre outros. A partir dessa análise a percepção corporal do indivíduo é ampliada, o que permite não só o controle da dor psicogênica, mas alivia dores de cabeça, melhora a concentração e ajuda na prevenção de diversas doenças, inclusive de problemas no coração. 

Um aparelho sensível a tais processos fisiológicos é utilizado para amplificar cada resposta, convertendo-as em informações significativas, em sua maioria sinais visuais. São esses sinais que guiarão o paciente ao autocontrole. 

Fisioterapia 

fisioterapia oferece diversos recursos para pacientes que sofrem com dor psicogênica. O tratamento exige uma avaliação completa do paciente para que se descubra quais são os instrumentos válidos para cada caso. Geralmente, conta-se com uma equipe multidisciplinar, o que traz uma bordagem mais abrangente. 

Além de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, o tratamento coopera para reabilitação e controle dos sintomas. São muitas as vantagens e praticamente nulos os riscos de complicações. Deve-se, contudo, sempre respeitar os limites de cada um.

A termoterapia, a eletroterapia, a cinesioterapia e as massagens são alguns dos recursos mais usados. Uma combinação deles pode ser indicada, potencializando os resultados do tratamento. 

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM-SP: 158074 / RQE: 65523 - 65524 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Área de Atuação em Dor pela AMB. Doutorando em Ciências pela USP. Pesquisador e Colaborador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do HC-FMUSP. Diretor de Marketing do Colégio