Disfunção urinária
Material elaborado por
Adelia Correia Lucio, MSc
Fisioterapêuta. Especialista em Neurologia Adulto pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) . Mestre em Cirurgia (Neurourologia) UNICAMP. Doutorado em andamento em Cirurgia pela UNICAMP.
CREFITO 3-79726-F
Dois entre três pacientes portadores de esclerose múltipla (EM) apresentarão algum tipo de sintoma urinário durante o curso da doença. Isto ocorre porque os locais de predileção das lesões da doença, no sistema nervoso central, coincidem com os locais de controle neurológico do sistema urinário. Caso uma pessoa apresente sintomas urinários decorrentes de uma lesão no sistema nervoso central, sendo por consequência da EM ou qualquer outra doença neurológica, os profissionais da saúde chamarão esta condição de bexiga neurogênica.
Para entendermos o que ocorre com a bexiga quando há uma lesão do sistema nervoso central precisamos primeiro entender seu funcionamento normal. O aparelho urinário é responsável pela formaçao e excreção de urina e é composto pelos rins, ureteres, bexiga urinária e uretra. Os rins são órgãos em forma de feijão responsáveis por filtrar o sangue e formar a urina. Dos rins, a urina segue para a bexiga através de finos tubos chamados ureteres. A bexiga é um órgão muscular oco que tem a função de armazenar a urina produzida pelos rins até o momento e local escolhidos para urinar. A uretra é um canal que se extende da base da bexiga ate a parte exterior do corpo responsável por conduzir a urina ao meio externo, é mais longa nos homens e mais curta nas mulheres.
Quando a bexiga urinária esta repleta de urina, ela incha obtendo a forma arredondada e diminui de tamanho após seu esvaziamento. Para que ocorra o enchimento da bexiga ela deve permanecer em repouso e a uretra contraída, para evitar perdas de urina. Para que ocorra o esvaziamento o músculo que forma a bexiga se contrai, a uretra relaxa e a micção ocorre. Basicamente, este é o funcionamento normal do aparelho urinário.
Os sintomas urinários na esclerose múltipla dependem do local que a lesão ocorre podendo causar sintomas de esvaziamento ou enchimento.
Os sintomas de esvaziamento ocorrem mais frequentemente em duas situações: quando a contração da bexiga urinária, necessária para o esvaziamento adequado, é muito fraca ou não ocorre sendo necessária a utilização de sonda vesical para a remoção da urina; ou quando a bexiga se contrai, porém o esfíncter não relaxa impedindo a urina de ser expelida, condição esta chamada de dissinergia vésico-esfincteriana.
A primeira situação é menos frequente na esclerose múltipla e pode ocorrer antes dos sintomas de enchimento se iniciarem ou ocorrer de forma permanente. Neste caso a bexiga se enche demasiadamente, porém a vontade de urinar é pouca ou nenhuma. Pode ocorrer perdas de urina por transbordamento, ou seja, a capacidade maxima da bexiga é ultrapassada e perdas involuntárias ocorrem. A segunda situação é mais frequente, ocorrendo em cerca de 25% dos pacientes. Nos dois casos a incidência de infecção urinária é alta, pois a urina parada por muito tempo dentro da bexiga é um meio ideal para a proliferação de bactérias.
Os sintomas de enchimento são muito frequentes sua causa esta associada às contrações irregulares e involuntárias da bexiga, que deveria estar relaxada no período de enchimento da bexiga. Os sintomas de enchimento mais comuns são a frequência urinária aumentada, urgência miccional, incontinência urinária de urgência e noctúria.
A frequência urinária normal, ou seja o número de vezes que uma pessoa vai ao banheiro urinar, é cerca de oito vezes por dia, uma pessoa que se queixa de urinar mais que oito vezes por dia é considerada uma pessoa com frequência urinaria aumentada. A urgência miccional é caracterizada pela vontade súbita de urinar muito difícil de controlar, sendo necessário ir ao banheiro mais próximo o mais rápido possível. Caso uma pessoa não consiga chegar ao banheiro, durante uma urgência miccional, e perde urina esta pessoa tem o sintoma de incontinência urinaria de urgência. E por último, uma pessoa que tem o sono interrompido durante a noite para urinar é considerada uma pessoa com sintomas de noctúria.
O entendimento destes sintomas pelo paciente é muito importante, pois a percepção da presença e variação dos sintomas auxilia o autoconhecimento e consequentemente o aumento da participação deste na relação terapêutica, auxiliando assim o profissional da saúde na escolha do melhor tratamento para cada caso.
Estas informações são recomendações gerais que objetivam expandir o conhecimento sobre a Esclerose Múltipla, mas não substituem a visita do paciente a um neurologista.
Fontes: 1. Nakipoglu, G.F.; Kaya, A.Z.; Orhan, G.; et. al. Urinary dysfunction in multiple sclerosis. J Clin Neurosci, v.16, p.1321–1324, 2009. 2. Onal, B.; Siva, A; Buldu, I; Demirkesen, O; et al. Voiding Dysfunction due to Multiple Sclerosis: a Large Scale Retrospective Analysis. International Braz J Urol, v.35, n.3, p.326-333, May - June, 2009. 3. Araki, I.; Matsui, M.; Ozawa, K.; Takeda, M.; et. al. Relationship of bladder dysfunction to lesion site in multiple sclerosis. The J of Urol, v.169, p.1384-1387, April, 2003. 4. Abrams, P.; Cardozo, L.; Fall, M.; Griffiths, D.; et. al. The Standardisation Of Terminology In Lower Urinary Tract Function: Report From The Standardisation Sub-Committee Of The International Continence Society. Urology,v.61, p.37–49, 2003.
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